Teatro para Infância em Portugal - AQUI/AGORA
Poderá a Liberdade Artística ser assumida verdadeiramente? Se a ajuda financeira a uma criação para a infância e juventude é sempre oficialmente inferior a uma criação para o público adulto? Poucas companhias podem realmente cobrir as despesas de uma criação, o que talvez desvirtue os seus objectivos estéticos e artísticos, e as obrigue a fazer “o que se pode”. A obrigação de um certo número de espectáculos, agora uma das condições de acesso aos subsídios do estado empurra-nos para a venda de espectáculos a baixo preço e em locais raramente com condições teatrais ideais (escolas, museus, etc.), e que além de privarem o público infantil da ida a um teatro e o jogo social que este proporciona, diminui a qualidade dos espectáculos. Além das condições económicas, talvez seja necessário reflectir sobre as limitações temáticas, sempre diminuídas pelas questões técnicas: poucos actores, pouca ou nenhuma cenografia, montagem mínima, ou o recurso a temas escolarizados para se conseguir vender. Assim, a liberdade de criação terá de ser sempre vigiada. As companhias têm que resolver sozinhas os problemas de difusão, colocação, venda, procura de um público para os seus espectáculos antes mesmo de se preocuparem com o processo de criação. Neste momento um espectáculo com um texto e uma dramaturgia exigente provoca medo aos compradores e programadores. A moda do teatro de misturas: vídeo, dança, circo, etc., é o que está em moda e portanto obriga-nos muitas vezes a submetermos às expectativas dos programadores tornando o nosso trabalho apenas um objecto “vendável”. O que é de lamentar é que os autênticos criadores de espectáculos para a infância e juventude sejam substituídos por fabricantes de espectáculos que são cada vez mais uma distracção, ou servem meramente os objectivos escolarizados. Sabemos que o lugar da infância na nossa sociedade é problemático. Como aceitar que as crianças, verdadeiramente uma grande parte do público teatral no nosso país, sejam tão pouco consideradas e que o Estado não lhes consagre a parte exacta a nível financeiro, argumentando sem nenhuma vergonha que há pouca qualidade artística neste sector, argumento este que o mesmo estado alimenta com a penúria de subsídios e um desprezo profundo pelos direitos das crianças. Mas o que fazer? Talvez a primeira acção seja romper com o isolamento em que nos encontramos. Respeitar as diferenças de formas e objectivos de cada grupo e hierarquizá-los. Fomentar encontros entre criadores deste sector do teatro, co-produções, feiras de teatro e momentos de debate. Exigir ao poder actual uma verdadeira política teatral para a Infância e Juventude, que assegure uma resposta adequada às necessidades do “agora” e prepare o público de amanhã para uma maior abertura estética e social assim como para um maior poder de crítica e de exigência artística. José Caldas |
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